A produção global ineficiente de alimentos está na origem de um enorme aumento da fome, bem como de um terço de todas as emissões e de 80% da perda de biodiversidade, advertiu o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. O chefe da ONU falou sobre o tema na pré-Cúpula de Sistemas Alimentares da ONU, em Roma, que teve início na segunda-feira (26) e é sediada pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
O apelo de Guterres foi direcionado a todos os países para que transformem os sistemas alimentares para acelerar o desenvolvimento sustentável. Ele lembrou que até 811 milhões de pessoas enfrentaram a fome em 2020 — 161 milhões a mais do que em 2019. Acrescida ao cenário preocupante, existe, ainda, a perturbação causada pela pandemia da COVID-19, durante a qual foi constatado que 3 bilhões de pessoas não têm dinheiro para uma alimentação saudável.
“Estamos seriamente fora do caminho para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030”, disse Guterres, que destacou como “a pobreza, a desigualdade de renda e o alto custo dos alimentos” são responsáveis por esses males, e como as mudanças climáticas e conflito são foram “consequências e impulsionadores desta catástrofe”.
Amina Mohammed – Ecoando essas preocupações e pedindo ação na Pré-Cúpula desta semana, a vice-secretária-geral da ONU, Amina Mohammed, insistiu que combater a fome crescente e a má nutrição eram desafios que a comunidade internacional deveria enfrentar, “já que temos os meios para fazê-lo”.
Mohammed saudou o fato de que 145 países já haviam embarcado em diálogos nacionais para decidir como os sistemas alimentares sustentáveis deveriam ser até 2030, em referência a reuniões online regulares, fóruns públicos e pesquisas com jovens, agricultores, povos indígenas, sociedade civil, pesquisadores, setor privado, líderes políticos e ministros da agricultura, meio ambiente, saúde, nutrição e finanças.
O resultado dessas trocas contribuirá para as ações sugeridas organizadas em torno das cinco linhas de ação da Cúpula para transformar a produção de alimentos e alavancar a importância de longo alcance dos sistemas alimentares para ajudar a alcançar os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), explicou a vice-chefe da ONU:
“Não existe um tamanho único que sirva para todos. Devemos trabalhar país por país, região por região, comunidade por comunidade, para garantir que a diversidade de necessidades seja atendida para dar suporte a cada realidade. O mesmo se aplica aos nossos sistemas alimentares e às mudanças que são necessárias para que possamos alimentar o mundo, sem privar o planeta de seu futuro.”
A Pré-Cúpula, que está sendo realizada em um formato híbrido, reúne delegados de mais de cem países para lançar um conjunto de novos compromissos por meio de coalizões de ação e mobilizar novos financiamentos e parcerias.
Sustentabilidade frágil – Mohammed destacou como a pandemia reverteu os esforços em direção ao desenvolvimento sustentável, com os dados mais recentes da ONU indicando que cerca de 100 milhões de pessoas foram empurradas para a pobreza desde o início da crise de saúde global.
Mas ela insistiu que a reunião desta semana em Roma, sediada pela FAO, teve a oportunidade de “impulsionar o progresso” na entrega da Agenda 2030, concordando posições sobre soluções sustentáveis, à frente dos Líderes dos Sistemas Alimentares da ONU da Cúpula em Nova York em setembro.
“Por meio da Agenda 2030, concordamos em transformar nosso mundo. Só podemos fazer isso trabalhando juntos”, disse Mohammed.
“Isso significa que devemos ouvir uns aos outros, apreciar as diversas perspectivas e compreender os desafios dinâmicos e interconectados que enfrentamos. Isso significa que devemos nos comprometer a fazer as escolhas necessárias para garantir que não deixemos ninguém ou algum país para trás”.
Fonte: ONU Brasil