“A pandemia causada pelo novo coronavírus (Covid-19) tem trazido mudanças na vida cotidiana das crianças. Há indícios de que a taxa de mortalidade nessa faixa etária é relativamente menor em comparação a outros grupos, como adultos e idosos. No entanto, é preciso afirmar que todas as crianças estão suscetíveis às repercussões psicossociais da pandemia. A desigualdade social também determina diferentes níveis e condições de vulnerabilidade sobre a experiência da infância, de modo que os profissionais da saúde devem estar atentos às demandas de atenção e cuidado que se produzem nessa situação”. Essa é a reflexão proposta pela nova cartilha da série Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia Covid-19, elaborada por pesquisadores colaboradores do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (Cepedes/Fiocruz), sob coordenação de Débora Noal e Fabiana Damásio, diretora da Fiocruz Brasília.
O objetivo da cartilha é apresentar aspectos referentes à saúde mental e à atenção psicossocial de crianças no contexto da pandemia, destacando fatores relacionados à sobrecarga de trabalho e de demandas no âmbito familiar e à fragilização do funcionamento das redes de apoio. “Dentre as reações emocionais e alterações comportamentais frequentemente apresentadas pelas crianças durante a pandemia, destacam-se: dificuldades de concentração, irritabilidade, medo, inquietação, tédio, sensação de solidão, alterações no padrão de sono e alimentação”, afirmam os autores. São reações esperadas diante das dificuldades do cenário atual, porém lidar com as alterações emocionais e comportamentais das crianças não é fácil para pais e cuidadores, que também estão vivenciando níveis mais elevados de estresse e ansiedade neste período.
Interação familiar, rotina e fatores de risco para violência são alguns dos assuntos discutidos na cartilha, que aborda também os casos de crianças refugiadas ou migrantes e crianças com deficiência. Os autores incentivam que pais e cuidadores dialoguem com as crianças sobre a situação atual. “Não é preciso ter medo de conversar sobre o que está acontecendo com as crianças. Elas já ouviram falar sobre o vírus e é possível explicar de uma forma compreensível e honesta sobre a doença, orientar com relação às medidas de cuidado e prevenção, esclarecer dúvidas e permitir que se expressem a respeito”, recomendam.
A cartilha traz, ainda, orientações para momentos futuros. “Antecipando as preocupações e cuidados advindos do término da quarentena, é recomendado considerar que a possibilidade de transmissão do vírus não cessará, apenas se reduzirá o impacto quantitativo da onda de transmissão, o que faz necessário que a retomada da rotina, do trabalho e dos serviços de atenção à saúde seja planejada”, dizem os autores. “É importante que se possa acolher e trabalhar o assunto da pandemia, do que foi vivido no distanciamento social, dos efeitos que persistem de tristeza, medo da morte ou outras preocupações. Igualmente, é essencial que experiências de resiliência, solidariedade e compaixão também sejam compartilhadas”, acrescentam.
Com informações Portal Fiocruz