Os olhos servem de porta de entrada para o novo coronavírus. Os estudos mostram que ele se instala nas células que revestem as vias respiratórias altas e nas da conjuntiva, com mais facilidade do que os outros coronavírus causadores das epidemias de Sars e da Mers, de anos atrás.
Em artigo publicado na revista “The Lancet Respiratory Medicine”, pesquisadores da escola de saúde pública da Universidade de Hong Kong foram os primeiros a documentar a facilidade com que o novo coronavírus conseguia infectar seres humanos ao penetrar os olhos, além das vias aéreas.
Eles cultivaram, em laboratório, tecidos das vias respiratórias e da conjuntiva de pacientes com covid-19, para compará-los com os mesmos tecidos daqueles infectados pelo vírus da Sars e da gripe H5N1.
Os resultados mostraram que o vírus da covid-19 é capaz de atingir concentrações celulares 80 a 100 vezes mais altas do que os da Sars e da gripe H5N1. Segundo os autores: “Os resultados explicam a transmissibilidade mais elevada do vírus da covid-19, do que a dos coronavírus da Sars e da H5N1, além da importância dos olhos como via importante da transmissão humana”.
Achados como esses justificam a insistência nas recomendações de lavar as mãos com água e sabão, com regularidade, de não levar as mãos ao rosto e de não coçar os olhos, uma vez que pesquisadores da mesma Universidade já haviam demonstrado que o vírus pode permanecer viável por vários dias em superfícies de aço ou de plástico.
O coronavírus poderia ser sexualmente transmissível? O número de pacientes avaliados é tão pequeno que não permite conclusões definitivas.
No início da epidemia, imaginava-se que aos profissionais de saúde, que trabalham em contato direto com os pacientes, bastaria usar roupas protetoras e as máscaras N95. Esse e outros estudos demonstraram que havia necessidade de uma barreira de plástico para evitar o contato de secreções com os olhos (óculos ou “face shield”).
O vírus da covid-19 já foi isolado na saliva, no trato gastrointestinal, nas fezes e na urina dos pacientes. Agora, pesquisadores do Hospital Municipal de Shangiu, na China, publicaram no “JAMA Network” um pequeno estudo realizado para detectar a presença de partículas virais no sêmen de 38 homens internados com a covid-19. O vírus foi encontrado em seis deles.
O coronavírus poderia ser sexualmente transmissível? O número de pacientes avaliados é tão pequeno que não permite conclusões definitivas. No ambiente científico, pesquisas desse tipo são consideradas apenas “geradoras de hipótese”, isto é, requerem estudos mais completos, com maior número de pacientes.
Além do mais, não sabemos se partículas virais presentes no esperma estão íntegras, mantêm a viabilidade e a capacidade de infectar outras células, requisitos fundamentais para a transmissão.
Enquanto aguardamos a chegada da vacina salvadora e de medicamentos dotados de atividade antiviral, cabe a nós lavar as mãos com frequência, usar máscara ao sair de casa, além de manter o rigor do isolamento, é claro.
Fonte: Artigo de Drauzio Varella; Portal Drauzio Varella