Em uma coletiva de imprensa no dia 14 de junho, a diretora regional do Programa Mundial de Alimentos (WFP) na América Latina e Caribe, Lola Castro, disse que o número de pessoas em insegurança alimentar na região chegou a 9,7 milhões. Até o final do ano passado essa estatística era de 8,3 milhões.
Entre o principal motivo para o aumento neste dado é a inflação dos alimentos agravada pela guerra na Ucrânia. “Estamos prevendo que este número chegue a 14 milhões de pessoas se a crise continuar”, disse a diretora. “Isso não é bom e estamos voltando quase aos altos níveis que registramos durante o pico de COVID-19”, explicou fazendo menção aos 17,2 milhões de pessoas que estavam em grave insegurança alimentar no auge da pandemia.
Os preços do combustível e da energia também são “um grande problema” para as populações mais vulneráveis, disse Castro a jornalistas em Genebra, impactando na inflação geral. “Vimos como nos últimos dois anos o custo de movimentação de uma tonelada de alimentos em nossa região tornou-se sete vezes mais caro.”
Como exemplo inflacionário, a diretora regional citou o Haiti, cujos preços dos alimentos cresceram 26% e estão impulsionando um número cada vez maior de pessoas a arriscarem suas vidas em perigosas rotas migratórias dentro do próprio continente, que incluem como destino não apenas a América do Norte, como também Brasil e Chile.
“Todos vocês estão vendo caravanas, caravanas de migrantes em movimento. Antes costumávamos falar sobre a migração na América do Norte e Central, mas agora, infelizmente, falamos sobre um movimento de migração hemisférica. O continente todo está em movimento”.
Darien Gap – Um dos sinais mais claros do desespero das pessoas é o fato de que elas estão dispostas a arriscar suas vidas atravessando o Darien Gap, uma rota florestal particularmente árdua e perigosa na fronteira entre Colômbia e Panamá, famosa por conectar a América do Sul a Central e do Norte.
“Em 2020, cinco mil pessoas passaram pelo Darien Gap, migrando da América do Sul para a América Central. Em 2021, 151 mil pessoas passaram. São 10 dias andando por uma floresta, 10 dias por rios, atravessando montanhas. Pessoas morrem porque esta é uma das selvas mais perigosas do mundo”, lembrou a diretora do WFP.
Para esses migrantes, a razão pela qual estão em movimento é simples, explicou Castro. “Eles estão deixando comunidades onde perderam tudo para a crise climática, não têm segurança alimentar, não têm capacidade de alimentar seu povo e suas famílias.”
Dados da ONU indicam que das 69 economias que estão passando por crises alimentares, energéticas e financeiras, 19 estão na região da América Latina e Caribe.
Fonte: ONU Brasil